Se você é apaixonado por carros clássicos, provavelmente já ouviu falar do Fiat 147, um dos modelos mais icônicos da indústria automobilística brasileira. O que talvez você não saiba é que esse compacto lendário deu origem a uma picape inovadora e prática: a Fiat City, que foi derivada da famosa 147 Pick-up.
Lançada em um período de pioneirismo da Fiat en Brasil, a 147 Pick-up foi uma das primeiras picapes derivadas de carros de passeio do país. Apesar de não ser tão lembrada quanto outros modelos da marca, como o Fiat uno ou a própria linha do 147, ela desempenhou um papel importante ao introduzir um conceito que, décadas depois, ainda faz sucesso: o das picapes leves e compactas.
Neste artigo, você vai mergulhar na história dessa pequena grande utilitária, desde o lançamento da 147 Pick-up até a chegada da Fiat City, compreendendo por que ela se tornou uma referência no mercado automotivo brasileiro.
O Início: Fiat 147 Pick-up
Tudo começou em 1978, quando a Fiat apresentou a 147 Pick-up en el Salón del Automóvil de São Paulo. Derivada diretamente do hatch compacto Fiat 147, essa pequena picape foi desenvolvida para atender às necessidades urbanas e de pequenos negócios.
Na época, a proposta era ousada: criar uma picape com dimensões reduzidas, ideal para o transporte de pequenas cargas em centros urbanos. Para isso, a Fiat adaptou o compartimento traseiro do 147, transformando-o em uma caçamba funcional com capacidade para até 450 kg de carga e dois passageiros.
Os motores oferecidos eram os mesmos do 147 hatch:
- Um 1050 de 56 cv e 7,9 kgfm de torque, Es
- Um 1300 de 61 cv e 10,8 kgfm de torque.
Ambos eram combinados a um câmbio manual de quatro marchas, garantindo uma condução simples e funcional, mas sem grandes emoções.
Design e Características da Pick-up Fiat
A 147 Pick-up mantinha o mesmo entre-eixos do hatch, com 2,22 metros, mas seu comprimento total era ligeiramente maior, atingindo 3,63 metros. A caçamba ocupava toda a área atrás dos bancos, maximizando o espaço para carga sem comprometer as dimensões compactas.
Uma característica curiosa da picape era a tampa traseira, que se abria para o lado esquerdo, fugindo do padrão de abertura para baixo. Esse detalhe conferia um charme adicional ao modelo e contribuía para sua identidade única.
Apesar das limitações de espaço e potência, a 147 Pick-up conquistou simpatia por sua praticidade e agilidade, tornando-se uma opção interessante tanto para pequenos negócios quanto para uso pessoal.
Evolução: Da 147 Pick-up à Fiorino Pick-up
Em 1980, a Fiat lançou a Panorama, uma perua derivada do 147 com maior comprimento e espaço interno. Esse modelo serviu de base para a evolução da picape, que ganhou uma nova versão em 1981, rebatizada de Fiorino Pick-up.
A Fiorino Pick-up trouxe melhorias significativas:
- Comprimento aumentado em 18 cm, totalizando 3,81 metros.
- Capacidade de carga ampliada para 500 kg, além do motorista.
- Nova tampa traseira, que se abria para baixo, seguindo o padrão das picapes tradicionais.
- Motores exclusivamente 1300, disponíveis nas versões a gasolina (61 cv) e álcool (62 cv).
Essas atualizações tornaram a picape mais prática e versátil, consolidando seu espaço no mercado como uma solução acessível e eficiente.
A Chegada da Fiat City
Em 1982, a Fiat adotou uma estratégia inovadora para expandir ainda mais sua linha de picapes. Enquanto a Fiorino Pick-up continuava voltada para o trabalho, a marca decidiu lançar uma versão voltada ao lazer e uso pessoal: a Fiat City.
A City trouxe a frente Europa do Fiat 147, com um design mais moderno e elegante. A proposta era clara: oferecer um veículo compacto e prático para quem buscava uma picape para o dia a dia, mas sem abrir mão de um toque de estilo e conforto.
O slogan da época resumia bem essa ideia:
“Pick-up Fiat e Pick-up City: enquanto uma trabalha, a outra se diverte.”
A convivência das duas gerações foi estratégica, permitindo que a Fiat atendesse tanto ao público profissional quanto aos consumidores em busca de um veículo mais descontraído.
Desempenho e Impressões
A Fiat City manteve muitas das características técnicas da Fiorino Pick-up, incluindo o motor 1300 e a capacidade de carga de 500 kg. No entanto, ela ganhou uma suspensão traseira ajustada para oferecer mais conforto em trajetos urbanos, embora ainda apresentasse certo desconforto ao trafegar sem carga em pisos irregulares.
Um teste realizado em outubro de 1986 destacou alguns pontos positivos e negativos do modelo:
- Positivos:
- Boa visibilidade, graças à posição mais elevada do volante.
- Design atraente e moderno.
- Negativos:
- Engates imprecisos nas primeiras marchas, um problema recorrente nos Fiat da época.
- Traseira instável em pisos irregulares quando sem carga.
Mesmo assim, a Fiat City conquistou um público fiel, principalmente entre jovens e pequenos empresários que precisavam de um veículo versátil para o dia a dia.
O Fim de uma Era
A convivência entre a 147 Pick-up e a Fiat City durou até 1984, quando a primeira foi descontinuada. Já a Fiat City continuou no mercado até 1986, quando foi substituída por modelos mais modernos, como a Fiorino com cabine dupla.
Apesar de sua breve trajetória, a Fiat City deixou sua marca como uma picape compacta e inovadora, capaz de aliar praticidade e estilo em um único veículo.
Conclusión
Olhar para o passado é uma maneira de entender como a indústria automobilística evoluiu ao longo dos anos. A Fiat City e sua antecessora, a 147 Pick-up, são exemplos de como soluções simples e criativas podem atender às necessidades de diferentes públicos, seja no trabalho ou no lazer.
Nos dias de hoje, quando picapes compactas e SUVs dominam o mercado, é interessante lembrar que a Fiat já estava à frente de seu tempo ao lançar modelos como esses. Se você é fã de carros clássicos, a história da Fiat City é um lembrete de como a inovação pode surgir em pequenos pacotes — literalmente.
Que tal procurar uma dessas raridades para a sua coleção? Afinal, a Fiat City não é apenas uma picape; ela é um pedaço da história automotiva brasileira, capaz de trazer nostalgia e, quem sabe, até um sorriso ao lembrar dos bons tempos em que “a pequena grande picape” dominava as ruas.
