VW BY: O Projeto Abortado de Sub-Gol dos Anos 1980

Se você é um apaixonado por carros antigos ou história automobilística, já deve ter se deparado com algum projeto de carro que nunca chegou às lojas. São os famosos “carros natimortos”, modelos que, por algum motivo, não vingaram, mas que, com o tempo, acabam virando lendas. No Brasil, um dos maiores exemplos disso é o VW BY, um projeto da Volkswagen que teve a ambiciosa missão de ser um subcompacto, mais barato e simples, abaixo do Gol, mas que nunca chegou a ser produzido em série. Após mais de 30 anos, o projeto ressurgiu como uma das grandes atrações do Garagem VW, um acervo especial da marca, localizado no galpão da fábrica da Anchieta, em São Bernardo do Campo (SP), que abriga muitos clássicos da marca.

Esse carro, que poderia ter sido o sucessor natural de modelos como o Fusca e até mesmo do TL, nunca saiu do papel, mas é uma prova de que a Volkswagen sempre esteve à frente do seu tempo em termos de ideias inovadoras. E hoje, ao revelar o projeto do BY, a marca não só reaviva um pedaço importante de sua história, mas também faz você pensar o que poderia ter sido o mercado automobilístico brasileiro se o modelo tivesse ido adiante.

Neste artigo, vamos explorar em detalhes o que seria o VW BY, o que o fez ser cancelado e por que ele, até hoje, desperta a curiosidade de fãs e entusiastas da indústria automobilística. Prepare-se para uma verdadeira viagem no tempo, onde veremos como a Volkswagen pensou em reinventar o carro de entrada no Brasil e as razões pelas quais esse projeto não vingou. Vamos começar!

O BY: O Que Era Esse Carro?

Quando a Volkswagen iniciou o desenvolvimento do BY, o cenário no mercado brasileiro era bem diferente do que temos hoje. O Gol já era um sucesso absoluto de vendas, tendo conquistado uma base sólida de consumidores em todo o país. No entanto, a Volkswagen queria expandir sua linha e criar um modelo mais acessível, que ficasse abaixo do Gol e conquistasse um público ainda mais amplo. A ideia era um carro mais simples, com foco no custo-benefício, mas que fosse capaz de incorporar algumas inovações da época, como o design e a tecnologia.

O VW BY era, basicamente, uma versão mais enxuta do Gol, mantendo várias características em comum, mas também trazendo soluções tecnológicas que, se implementadas, fariam dele um modelo à frente de seu tempo. A parte frontal do modelo, por exemplo, era praticamente uma cópia da do Gol, mas com algumas alterações sutis. Já a traseira, com um balanço curto, fez com que o porta-malas fosse sacrificado. A solução para isso foi um banco traseiro corrediço, algo que só seria visto em carros da Volkswagen mais de 15 anos depois, com o Fox.

Além disso, o BY contava com um parabrisa colado diretamente à carroceria, algo que também se tornaria padrão em diversos modelos nos anos seguintes. Essa solução mais moderna não só trazia benefícios estéticos, mas também ajudava na redução de custos de fabricação, algo crucial para um carro de entrada.

O Contexto do Desenvolvimento

Durante a década de 1980, o Brasil passava por um período de transição econômica. O mercado estava se adaptando às novas demandas do consumidor, que queria mais tecnologia e conforto, mas sem abrir mão de preços acessíveis. A Volkswagen, que já era líder em vendas, queria expandir ainda mais sua linha, e o BY surgia como a resposta a essa demanda crescente por carros mais baratos e com mais opções no portfólio.

Contudo, o projeto não foi uma tarefa fácil. O BY deveria ser um modelo simples e barato, mas as soluções inovadoras que a Volkswagen queria implementar acabaram tornando o projeto mais caro do que o esperado. O uso da suspensão traseira do Voyage de exportação para os EUA, por exemplo, foi uma escolha ousada, mas que aumentou os custos de produção devido aos pontos de ancoragem diferentes do Gol, o que fez o preço do BY ficar mais alto do que o necessário para um carro de entrada.

Outro fator que atrapalhou o projeto foi o design do carro. O uso do motor AP-1.600 da família BX (presente em modelos como o Gol, Voyage e Parati) fez com que o carro ficasse desproporcional, com a dianteira aparentemente mais robusta que a traseira, criando um visual desequilibrado que não agradou nem os designers nem os executivos da marca.

As Inovações do VW BY

Apesar dos desafios, o BY trouxe algumas inovações que merecem destaque. Um dos maiores atrativos era a proposta de preservar o espaço do porta-malas, algo que não era comum na época, principalmente em modelos compactos. Como o carro tinha um balanço traseiro muito curto, o espaço no compartimento de carga seria comprometido. Porém, a Volkswagen decidiu adotar o conceito de um banco traseiro corrediço, uma solução que seria aplicada em modelos como o Fox em 2003.

Além disso, o BY utilizava um parabrisa colado à carroceria, o que resultava em uma maior rigidez para a estrutura e redução de ruídos. Essa tecnologia, mais tarde, se tornaria comum em muitos modelos da indústria automotiva, mas no contexto do BY, era uma inovação e tanto.

Essas soluções, embora revolucionárias para a época, não conseguiram salvar o projeto do seu destino de ser arquivado. Mas, sem dúvida, elas mostraram o quão avançada estava a Volkswagen no planejamento de novos modelos.

O Cancelamento e o Legado

Apesar das inovações e de ter sido um projeto com grande potencial, o BY nunca chegou ao mercado. Em 1987, o projeto foi oficialmente cancelado, e a Volkswagen preferiu focar seus esforços na produção de outros modelos, como o Gol e o Voyage, que já faziam sucesso. O BY foi deixado de lado e guardado nas instalações da fábrica da Anchieta, onde ficou até ser redescoberto décadas depois.

Curiosamente, o projeto BY não foi totalmente destruído. Uma unidade protótipo do modelo sobreviveu ao tempo e, após ser revelada pela Volkswagen, se tornou um dos destaques do Garagem VW, o acervo de carros clássicos da marca. Esse veículo não apenas representa o que poderia ter sido um novo carro de entrada da Volkswagen, mas também é uma cápsula do tempo que mostra o potencial de inovação da marca na década de 1980.

Hoje, o VW BY é um exemplo clássico de como a indústria automobilística tem suas idiossincrasias e de como projetos podem ser cancelados por razões econômicas, de mercado ou até de visão. Mas é inegável que o BY deixou sua marca na história da Volkswagen, e a revelação do projeto só faz aumentar o fascínio por esses modelos natimortos.

Conclusão: O Que Aprendemos com o VW BY?

O VW BY é, sem dúvida, uma das histórias mais curiosas e fascinantes da história automobilística do Brasil. Ele poderia ter sido o sub-Gol dos anos 1980, um modelo mais barato e acessível para a entrada no mercado, mas, por uma série de fatores, não conseguiu se concretizar. O que resta do BY é um protótipo único que, hoje, representa não só o que poderia ter sido, mas também o espírito inovador da Volkswagen, que sempre buscou oferecer soluções criativas para os seus consumidores.

Ao olhar para o VW BY, você pode refletir sobre como os carros natimortos carregam em si o potencial de mudar a história. Mesmo que o projeto tenha sido arquivado, as ideias e soluções inovadoras do BY influenciaram a indústria de várias maneiras. E, quem sabe, se o projeto tivesse avançado, o mercado brasileiro poderia ter se tornado ainda mais competitivo, com um modelo de entrada mais acessível e com tecnologias que só apareceriam em modelos mais caros muitos anos depois.

Embora o VW BY nunca tenha visto as ruas, ele deixou um legado importante, lembrando-nos que, no mundo dos carros, algumas das melhores ideias podem, às vezes, nunca sair do papel.