Renault Dauphine: O Compacto Francês Que Conquistou o Brasil

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A história do Renault Dauphine é uma narrativa fascinante que se entrelaça com o desenvolvimento industrial e cultural do Brasil nas décadas de 1950 e 1960. Como o primeiro modelo da Renault a ser fabricado em solo brasileiro, o Dauphine não apenas marcou a entrada da marca no país, mas também desempenhou um papel significativo na evolução do setor automotivo nacional.

O Contexto Histórico

Créditos: Reprodução

No período pós-Segunda Guerra Mundial, a Europa estava em processo de reconstrução. A França, em particular, buscava revitalizar sua economia e indústria automotiva. A Renault, sob a liderança de Pierre Lefaucheux, presidente da empresa, e Fernand Picard, diretor de design, havia alcançado sucesso com o Renault 4CV. Conhecido no Brasil como “Rabo Quente” devido à posição traseira do motor e câmbio, o 4CV era um veículo compacto que atendia às necessidades de mobilidade da época.

No entanto, Lefaucheux e Picard perceberam que, com a melhoria econômica, os consumidores franceses e europeus desejariam um automóvel um pouco maior e mais sofisticado que o 4CV. Assim, em 1949, iniciaram o desenvolvimento de um novo modelo que pudesse atender a essa demanda emergente. O nome escolhido para esse projeto foi Dauphine, o feminino de “Dauphin”, que significa “herdeiro do trono” em francês, simbolizando a expectativa de que este novo carro sucederia o 4CV em popularidade.

Desenvolvimento e Lançamento

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Os engenheiros e designers da Renault trabalharam intensamente no projeto do Dauphine. Em 1952, os primeiros protótipos já estavam em circulação para testes. Inicialmente, o Dauphine utilizava o mesmo conjunto motor/câmbio do 4CV. Contudo, após extensivos testes, concluiu-se que era necessário mais potência. Dessa forma, o motor original de 747 cm³ foi substituído por um de 845 cm³, capaz de gerar 26 cavalos de potência. Combinado com uma transmissão manual de três marchas, com a segunda e terceira sincronizadas, o Dauphine alcançava uma velocidade máxima de 110 km/h e apresentava um consumo eficiente de combustível, atingindo médias de 14 km/l.

O Renault Dauphine foi oficialmente apresentado ao mundo em 1956, primeiro em Paris e, posteriormente, no Salão de Genebra. A recepção foi extremamente positiva, e o modelo rapidamente conquistou mercados internacionais. Além da França, o Dauphine foi produzido em países como Espanha, Argentina, Austrália, Nova Zelândia, Itália, Bélgica, Argélia, Reino Unido, Israel e México. No total, mais de 2 milhões de unidades foram vendidas globalmente ao longo de 11 anos de produção.

A Chegada ao Brasil

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No Brasil, a indústria automotiva estava em ascensão no final da década de 1950. A Willys-Overland do Brasil, estabelecida no país desde 1952, buscava diversificar sua linha de produtos além dos veículos utilitários da família Jeep. As negociações entre a Renault e a Willys-Overland começaram logo após o lançamento do Dauphine na França. Em 1957 e 1958, as equipes de engenharia de ambas as empresas colaboraram para viabilizar a produção do Dauphine em solo brasileiro. O objetivo era iniciar a fabricação no segundo semestre de 1959.

Em dezembro de 1959, o Renault Dauphine foi oficialmente lançado no Brasil como um modelo nacional, fabricado pela Willys sob licença e supervisão técnica da Renault. As vendas começaram em janeiro de 1960. O Dauphine brasileiro mantinha as características técnicas do modelo francês, incluindo o motor de 845 cm³ e os 26 cavalos de potência. O veículo comportava confortavelmente uma família de até quatro pessoas e possuía um porta-malas dianteiro adequado para a bagagem necessária. Entre 1960 e 1965, aproximadamente 24 mil unidades do Dauphine foram produzidas no Brasil.

Expansão da Linha: Gordini

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Buscando atender a diferentes segmentos do mercado, a Willys-Overland introduziu novas versões do Dauphine no Brasil. Em julho de 1962, foi lançado o Renault Gordini, uma versão mais potente equipada com um motor de 845 cm³ aprimorado, capaz de gerar 32 cavalos de potência, e uma transmissão manual de quatro marchas. O Gordini oferecia um desempenho superior e algumas melhorias em relação ao Dauphine original. Até 1968, cerca de 41 mil unidades do Gordini foram produzidas no país.

Para os entusiastas de performance, a Willys lançou o Renault 1093 em 1964. Esta versão esportiva apresentava um motor ajustado para produzir 42 cavalos de potência, suspensão traseira rebaixada para melhor estabilidade e pneus especiais. O interior destacava-se pela inclusão de um conta-giros, um diferencial para os padrões da época. Foram produzidas apenas 721 unidades do 1093, tornando-o um modelo raro e cobiçado por colecionadores.

O Dauphine no Mercado de Clássicos em 2025

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Hoje, em 2025, o Renault Dauphine é um carro clássico muito valorizado no Brasil. Modelos bem conservados podem custar entre R$ 40 mil e R$ 80 mil, dependendo do estado de conservação e originalidade. Versões como o Gordini e o 1093, mais raras, chegam a ultrapassar R$ 100 mil.

O Dauphine se consolidou como um marco na história da Renault no Brasil, sendo um dos primeiros modelos da marca a ser fabricado por aqui. Ele representa uma era de inovação e acessibilidade no setor automotivo e continua sendo lembrado e admirado pelos entusiastas de carros clássicos.

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