Se você é um verdadeiro apaixonado por carros, especialmente os hot hatches clássicos, com certeza já ouviu falar do Renault Clio Williams. Aquele compacto raivoso dos anos 1990 que marcou época não só por sua aparência imponente, mas também por sua engenharia apurada e ligação direta com o automobilismo de elite a Fórmula 1, mais especificamente a parceria entre a Renault e a Williams. Agora, mais de 30 anos depois, surge um tributo moderno: o Renault 5 Monte Carlo Edition. Mas será que ele está à altura dessa lenda? Prepare-se, porque a resposta vai te surpreender e talvez te decepcionar.
O nascimento de uma lenda: Clio Williams, o pequeno monstro francês
Antes de qualquer julgamento sobre o Monte Carlo Edition, é fundamental que você entenda a grandeza do Clio Williams. Lançado em 1993, ele não era apenas mais um carro compacto com visual esportivo. O Clio Williams foi desenvolvido como uma edição especial de homologação, ou seja, uma versão feita para que a Renault pudesse competir com um modelo similar nas pistas.
Esse Clio carregava um nome de peso: Williams, em referência direta à equipe campeã da Fórmula 1, com a qual a Renault havia feito história. Essa ligação não foi meramente simbólica. O carro recebeu uma série de melhorias técnicas reais, como:
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Motor 2.0 de 150 cv naturalmente aspirado um número excelente para a época.
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Suspensão retrabalhada para melhor desempenho em curvas.
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Rodas douradas, em alusão aos carros da Williams de Fórmula 1.
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Carroceria levemente alargada, com detalhes visuais marcantes.
Ou seja, o Clio Williams era um verdadeiro carro esportivo, pequeno no tamanho, mas gigante no desempenho e no espírito de competição. É por isso que, até hoje, ele é considerado um ícone do segmento hot hatch.
Surge o Renault 5 Monte Carlo Edition: um tributo que para na maquiagem

Agora corta para 2025. Um grupo formado pela concessionária Zeeuw & Zeeuw, dos Países Baixos, e pelo atelier de customização Re-Volve decidiu prestar uma homenagem ao Clio Williams. Mas, ao invés de usar o Clio atual — que já não é mais vendido em todas as partes do mundo —, eles partiram de um novo modelo: o Renault 5 elétrico.
A ideia, à primeira vista, parece bem interessante. Afinal, o Renault 5 moderno resgata a essência dos compactos franceses e carrega um visual retrô que agrada bastante. A edição especial ganhou o nome de Monte Carlo Edition, uma clara referência às competições de rali e, indiretamente, ao espírito esportivo que consagrou a marca.
Por fora, o carro é um colírio para os olhos:
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Pintura azul escura com acabamento brilhante.
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Rodas douradas, como no Clio Williams original.
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Detalhes visuais exclusivos: emblemas, adesivos e insígnias personalizadas.
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Acabamento interno caprichado, com revestimentos diferenciados e toques de sofisticação.
Mas, infelizmente, a homenagem termina na aparência.
A grande decepção: o motor e o desempenho não acompanham o visual

Você pode até ficar empolgado ao olhar para o Monte Carlo Edition. Mas quando descobre o que está sob o capô — ou melhor, no eixo motriz —, o encanto vai embora. Isso porque essa versão não usa o motor mais potente disponível no Renault 5 elétrico.
Enquanto o Clio Williams original entregava 150 cv com um motor aspirado de resposta afiada, o Monte Carlo Edition usa o motor elétrico de apenas 120 cv. Isso mesmo: 30 cv a menos que o original de 1993. E, para piorar, essa versão limitada não conta com nenhuma melhoria de desempenho.
Você não verá:
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Ajustes na suspensão para uma dirigibilidade mais esportiva.
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Recalibração da direção para respostas mais diretas.
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Melhorias no chassi que tornem o carro mais firme ou divertido.
Ou seja, é só um Renault 5 básico com roupa de festa.
O desempenho? Também deixa a desejar. Ele vai de 0 a 100 km/h em 9 segundos, o que está bem longe de impressionar em um carro que se propõe a homenagear um ícone das pistas.
Equipado com a menor bateria do modelo
Além do motor menos potente, o Monte Carlo Edition também traz a menor bateria disponível para o Renault 5 elétrico: 40 kWh. Isso limita a autonomia e reduz o apelo prático do carro, especialmente em viagens ou uso intenso urbano.
Isso significa que, além de ser mais lento que o esperado, ele também não vai tão longe assim com uma carga completa. Para um modelo que carrega o nome “Monte Carlo” — evocando resistência, adrenalina e longas jornadas em terrenos desafiadores —, isso soa como uma ironia cruel.
Preço elevado: você paga pela nostalgia, não pela performance

Você pode estar pensando: “Bom, tudo bem… pelo menos é bonito e exclusivo.” Mas aí vem o golpe final: o preço.
Enquanto um Renault 5 elétrico equivalente custa cerca de 29.990 euros nos Países Baixos, o Monte Carlo Edition sai por 37.990 euros — uma diferença de 8 mil euros apenas pelos detalhes visuais e a exclusividade da edição limitada a 25 unidades.
Para deixar ainda mais absurdo: por 900 euros a mais, você compra o novo Alpine A290 — um verdadeiro esportivo elétrico, com desempenho superior, DNA de competição e desenvolvimento feito com base no que há de mais moderno em engenharia automotiva.
Exclusividade pela exclusividade não é suficiente

Sim, o Monte Carlo Edition é bonito, raro e carrega um nome com bastante peso. Mas, ao olhar com mais atenção, fica evidente que ele não passa de um exercício de marketing visual.
Você, que é entusiasta, sabe que um tributo verdadeiro precisa carregar a essência do original. Não basta pintar de azul e colocar rodas douradas. Um carro que se diz inspirado no Clio Williams deveria oferecer:
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Um motor com desempenho compatível, mesmo que elétrico.
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Uma suspensão esportiva, que transforme cada curva em diversão.
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Uma condução precisa, que faça você se sentir conectado à estrada.
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E principalmente: uma experiência que vá além da estética.
O que poderia ser um verdadeiro renascimento…

Imagine só se essa edição tivesse sido feita com o motor de 150 cv do Renault 5 topo de linha. Ou, melhor ainda, se tivesse recebido um setup exclusivo de suspensão, freios e direção. O nome Monte Carlo faria sentido, e você teria um carro que não só parece especial, como se comporta como tal.
Seria o reencontro entre passado e futuro, com a alma do Clio Williams se manifestando em um carro elétrico do século XXI. Uma verdadeira celebração, e não apenas um desfile de nostalgia vazia.
Hot hatches de verdade não vivem só de aparência

Se você viveu a era de ouro dos hot hatches, sabe que eles sempre foram mais do que carros com pintura chamativa. Eles eram a união de desempenho, emoção e acessibilidade. Um bom hot hatch fazia você sorrir mesmo em uma ida ao mercado. E o Clio Williams era exatamente isso: leve, potente e visceral.
Hoje, com a eletrificação tomando conta das ruas, ainda há espaço para modelos assim. Mas eles precisam carregar a mesma alma. O Monte Carlo Edition, infelizmente, não entrega essa alma. Ele é bonito, sim. Mas fica por aí.
A real homenagem precisa ir além

Para você que curte carros com história, que entende a importância do Clio Williams no cenário dos esportivos compactos, fica a sensação de que o tributo falhou. E falhou porque não entendeu o que fez o original ser tão amado.
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Não foi só a pintura.
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Não foram só as rodas douradas.
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Foi o conjunto.
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Foi o caráter.
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Foi a entrega de emoção ao volante.
O futuro dos tributos automotivos: lições a aprender
Você já percebeu que o mercado automotivo adora explorar o passado. Modelos retrô, reedições, tributos… tudo isso vende. Mas há um limite. Quando a homenagem se limita a estética, perde-se a chance de criar algo verdadeiramente memorável.
É possível sim fazer tributos que funcionem:
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A Porsche faz isso com maestria, mantendo o DNA dos seus clássicos com tecnologia moderna.
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A Honda resgatou o Civic Type R com muito respeito às suas origens.
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A Ford, com o Mustang Mach-E GT, tenta ao menos equilibrar legado e inovação.
Então, por que não tentar de verdade com o Renault 5?
Conclusão: um tributo bonito, mas sem alma

O Renault 5 Monte Carlo Edition pode até chamar atenção no estacionamento, mas, ao dirigir, você vai sentir que está em um carro comum e isso não deveria acontecer em um modelo que homenageia uma lenda como o Clio Williams.
Você merece mais do que visual. Você merece experiência. Um tributo de verdade deveria fazer você lembrar da sensação de estar ao volante de um carro que marcou época, e não apenas parecer com ele nas fotos.
Se for para prestar homenagem, que seja com respeito ao que realmente importa: a emoção de dirigir.
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