O Amor pela Fiat 147: Restauração e Memórias Familiares

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O mercado automobilístico brasileiro sempre foi marcado por lançamentos que conquistaram gerações e definiram o gosto de muitos motoristas. Entre os ícones dessa trajetória está o Fiat 147, um modelo que, embora não tenha sido o mais luxuoso ou o mais potente da época, conquistou seu espaço no coração dos brasileiros. E há uma história fascinante sobre um desses exemplares, uma história que combina paixão, dedicação e um carinho especial por carros que transcende gerações.

A origem da paixão: Fiat 147 e os primeiros passos de um comerciante

FOTO SERGIO CASTRO/ESTADÃO.

Quando a mãe de Maurício Tchakerian permitiu que ele aprendesse a dirigir no seu Fiat 147, certamente não imaginava que aquele momento de aprendizagem com o pequeno hatch compacto, na década de 1980, seria o ponto de partida para uma paixão que duraria a vida toda. Para o adolescente da época, o carro era mais do que um simples meio de transporte; ele representava liberdade, aprendizado e o início de um relacionamento profundo com o universo automobilístico.

Com o passar dos anos, Tchakerian, agora adulto e comerciante, começou a buscar exemplares bem conservados do modelo que marcou sua juventude. No entanto, sua busca não se limitava ao hatch. Ele queria algo ainda mais especial: o modelo pick-up Fiat 147, lançado em 1978 e considerado uma das primeiras picapes de pequeno porte do Brasil.

“Essa foi a primeira picape de pequeno porte do País. Chamada carinhosamente de ‘saboneiteira’, ela tem status diferenciado na linha 147, por ser muito rara”, explica Maurício Tchakerian com entusiasmo. E ele não estava exagerando. De fato, a picape Fiat 147, ou “saboneiteira”, como muitos a chamam, se tornou um símbolo de raridade e exclusividade no mercado de carros clássicos. Sua estrutura simples e robusta, combinada com o tamanho compacto, a tornava ideal para quem procurava um veículo prático para o trabalho, mas com a versatilidade de um modelo de passeio.

Encontro com o exemplar perfeito

FOTO SERGIO CASTRO/ESTADÃO.

A busca de Tchakerian por uma pick-up Fiat 147 que atendesse às suas expectativas não foi fácil. Durante anos, ele procurou, mas não encontrava um exemplar que estivesse em boas condições e que possuísse a estrutura íntegra que ele desejava. “Os modelos da Fiat não tinham protetor de caçamba e ficavam ainda mais maltratados”, relembra o comerciante. Para ele, encontrar um modelo conservado seria uma verdadeira missão quase impossível, especialmente por ser uma picape de uma época em que os cuidados com os veículos nem sempre eram os mais cuidadosos.

A sorte de Tchakerian mudou em 2008, quando ele encontrou, pela primeira vez, uma pick-up Fiat 147 amarela, que estava em fase final de restauração e à venda pela internet. A princípio, o comerciante ficou com dúvidas sobre a qualidade do trabalho realizado, já que, ao olhar o veículo, parecia que a restauração tinha sido feita de forma apressada, sem o cuidado necessário. Mas, ao invés de desanimar, ele decidiu arriscar.

“Mecânica, carroceria e pintura, que demandariam mais tempo de trabalho, já estavam prontas. Mas o proprietário anterior quis economizar e usou peças de acabamento muito gastas”, conta Tchakerian. Ele então tomou uma decisão ousada: comprou o veículo e decidiu restaurá-lo do zero, comprando peças novas e substituindo tudo o que fosse necessário para trazer a Fiat 147 de volta ao seu estado original.

FOTO SERGIO CASTRO/ESTADÃO.

Nove meses depois, a picape Fiat 147 estava completamente restaurada e modernizada. O motor 1.3 a gasolina foi mantido com o acerto original, mas o visual recebeu toques autorais do novo proprietário. Vidros degradê, suspensão ligeiramente rebaixada e rodas esportivas deram à picape uma aparência mais jovial e esportiva, sem perder as características que a tornavam única.

O trabalho de restauração realizado por Tchakerian não passou despercebido nas ruas. Muitos motoristas que viam a picape nas ruas, encantados com o seu visual, não acreditavam que se tratava de um modelo original de 1980, pois o trabalho de renovação estava tão perfeito que mais parecia uma criação nova. Tchakerian, com sua personalidade única, não hesita em compartilhar a história, mas ao mesmo tempo, brinca com as pessoas que acreditam que ele foi o responsável por criar a picape.

“Alguns me dizem que a adaptação ficou excelente. Às vezes, eu deixo pra lá e agradeço, outras vezes eu digo a verdade. Mas tem gente teimosa que tenta me convencer de que a picape jamais existiu”, diz ele, com um sorriso no rosto.

FOTO SERGIO CASTRO/ESTADÃO.

Embora o comerciante aprecie as reações das pessoas ao ver sua picape Fiat 147 nas ruas, ele afirma que os momentos mais gratificantes são aqueles passados em sua garagem, onde a picape é cuidadosamente preservada. “Minha satisfação é passar um pano úmido na lataria, dar a partida e ver que a marcha-lenta está perfeita”, confessa Tchakerian, que dedicou horas e horas ao cuidado de seu veículo.

A picape não é apenas uma relíquia automotiva para Tchakerian; ela também é um elo afetivo com a sua história e com a sua família. Tchakerian é um homem de família, e a Fiat 147 se tornou parte de suas memórias mais queridas. Para ele, a picape é um símbolo de um passado que ele não quer esquecer e que deseja transmitir para seu filho, Henrique, que hoje tem apenas sete anos.

“Uma das primeiras palavras que ele aprendeu a falar foi ‘Amarelinho’, como ele chama o carro. Eu vejo a picape e enxergo meu filho brincando na caçamba. Foi uma das lembranças da infância dele que mais me marcaram”, diz ele, com os olhos brilhando.

A picape 147 e o futuro

FOTO SERGIO CASTRO/ESTADÃO.

A história dessa pick-up Fiat 147 de Tchakerian não é apenas sobre restauração ou sobre um veículo raro e valioso. É sobre memórias, família e a preservação de um legado automobilístico que, por mais simples que seja, é cheio de significado. Ao olhar para o futuro, Tchakerian já sabe o que acontecerá com o carro que ele tanto cuida.

“Eu nunca penso em vender a picape. Ela está prometida para o meu filho. Ele já tem o nome do carro e o carinho por ele. Vai ser dele, com certeza”, afirma Tchakerian. E, para ele, nada é mais gratificante do que ver a próxima geração se apaixonando por um carro que representa tanto para sua história.

Em 2024, em meio ao boom de carros modernos e novos modelos de camionetas Es hatchs sendo lançados no Brasil, a história de Tchakerian e sua pick-up Fiat 147 é um lembrete de que os carros, mais do que veículos, são guardadores de memórias. Eles são peças que vão além da engenharia e do design, tocando as emoções e passando de geração em geração.

Este é o legado de um empresário que, ao manter sua Fiat 147 impecável em sua garagem, mantém também viva uma parte da história do Brasil sobre rodas. O Amarelinho, como é carinhosamente chamado por Henrique, ainda tem muito a contar e muitos momentos para viver. E quem sabe, daqui a algumas décadas, o pequeno Henrique poderá também contar aos seus filhos como esse carro mágico fez parte de sua própria infância.

No fim das contas, a verdadeira essência de um Coche clásico não está no preço de venda ou na raridade do modelo, mas nas memórias que ele proporciona e na história que ele representa.

FOTO SERGIO CASTRO/ESTADÃO.
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