De Sonho a Realidade: A Criação do Passat Asa de Gaivota pelas Mãos de Zé

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Se algum dia você estiver caminhando pelas ruas de São Paulo e avistar um Passat com portas ao estilo “asa de gaivota”, você pode ter acabado de cruzar o caminho de uma verdadeira lenda das estradas, José Augusto Viana, conhecido como Zé do Passat. Este baiano de Vitória da Conquista encontrou, no carro, uma oportunidade de expressar toda a sua criatividade e o amor por customizações únicas e ousadas. E quem sugeriu contar essa história foi o amigo Felipe Sanchez, que também enviou imagens do carro.

A jornada de Zé do Passat começa com uma infância simples, onde o mais próximo de um carro era um carrinho de madeira artesanal. A primeira bicicleta chegou somente na adolescência, e foi com ela que Zé iniciou seu caminho na customização e experimentação, colocando em prática uma veia criativa que sempre foi parte de sua personalidade.

O Primeiro Contato com a Mecânica e o Metal

Aos 17 anos, Zé se mudou sozinho para São Paulo e começou a trabalhar em uma empresa de soldas elétricas, onde adquiriu experiência prática em cortes e dobras de metal. Foi também lá que ele desenvolveu habilidades que logo o fariam se destacar: ele era um verdadeiro inventor, criando adaptações que aumentavam a eficiência de seu trabalho e até rendiam prêmios em dinheiro. “Cheguei a ganhar prêmios porque criava coisas na máquina que aumentavam a produção e facilitavam o meu serviço”, lembra Zé, com orgulho.

O Passat “Iraque” e a Primeira Transformação

Após anos de trabalho e economias, Zé adquiriu seu primeiro Passat, um modelo raro conhecido como Passat Iraque, fabricado em 1987. Este modelo, também chamado de LSE, foi produzido pela Volkswagen para exportação ao Oriente Médio entre 1983 e 1988. Um excedente dessa produção acabou sendo vendido no Brasil, e o carro rapidamente ganhou esse apelido inusitado.

Ao comprar o Passat, Zé teve a sensação de ganhar um verdadeiro presente, como uma criança recebendo sua primeira caixa de blocos de montar. “Nunca tive isso na infância, então o que não pude fazer como criança, comecei a fazer já adulto. Foi uma inspiração poder usufruir do que gosto”, disse ele. Cada detalhe do carro foi pensado e customizado para refletir a personalidade e a história de Zé.

O Processo de Customização: Criatividade e Trabalho Duro

As modificações começaram pelas portas, e o projeto foi se tornando cada vez mais ousado. As portas dianteiras, inspiradas no estilo Lamborghini, levaram 12 horas para serem instaladas. Já as portas traseiras, que ele configurou no estilo “asa de gaivota”, consumiram quase uma semana de trabalho. Mas foi a instalação do teto solar, retirado de um Fiat Stilo, que representou o maior desafio. “O teto tirou meu sono. Quando estava tudo cortado, o vidro não cabia de jeito nenhum. Tive que mexer até na posição do motor, e aí sobraram 2 mm para dividir e encaixar. Aí sim o sorriso veio no canto da boca”, conta ele, em tom divertido.

Uma Máquina Potente: Motor 1.7 Turbo e Personalização do Sistema de Freios

O Passat de Zé não se destaca apenas pelo visual, mas também pela potência. Ele equipou o carro com um motor 1.7 turbo, e o bloco foi adaptado para comportar pistões de um Santana 2.0, resultando em um motor de aproximadamente 1.9 litros, apelidado de “mil e nove”. Segundo Zé, o carro tem cerca de 400 cavalos de potência, embora ele nunca tenha testado em dinamômetro. No entanto, ele deixa claro que a intenção nunca foi a velocidade: “Não tiro racha. Já paguei para participar de eventos e ganhei troféus de carro mais criativo. Mas o que mais me satisfaz é estar ali e responder às perguntas de quem admira o carro”, afirma Zé.

Para sustentar essa potência, ele equipou o Passat com freios a disco nas quatro rodas, adaptando peças de diferentes modelos da Volkswagen, incluindo o Gol GTi. As rodas de 18 polegadas cromadas, a suspensão a ar e um painel customizado com mostradores digitais e analógicos completam o visual inconfundível do carro. “Era original, e fui modificando do meu jeito. Se eu não consigo encontrar uma peça, eu faço”, diz ele.

Curiosidades: Volante de Corrente e Câmbio “Granada”

Entre as modificações mais curiosas estão o volante de corrente e o câmbio granada, dois elementos que chamam a atenção de qualquer entusiasta. Esses detalhes refletem a personalidade de Zé, que busca sempre inovar e criar um visual único para seu Passat. “Eu queria algo que chamasse a atenção, mas que fosse minha cara. O volante de corrente e o câmbio foram ideias que surgiram e acabei colocando em prática”, conta ele.

Consumo de Combustível e Custo de Manutenção

Como era de se esperar, o Passat de Zé é um verdadeiro “beberrão”. “Ele ‘bebe’ mais do que eu”, brinca Zé, ao falar sobre o consumo de cerca de 2 km/l. Em condições normais, ele calcula que o carro faz menos de 4 km/l. E essa paixão pela customização não sai barata: ao longo de 15 anos, Zé calcula já ter gasto mais de R$ 90 mil no carro. Ele guardava todas as contas até o total de R$ 75 mil, mas uma enchente acabou danificando seus registros. “Perdi os papéis, mas cada centavo valeu a pena”, conta ele, com um sorriso no rosto.

Um Estilo de Vida

Hoje, aos 39 anos, Zé mantém uma oficina de serralheria em São Paulo, onde continua a trabalhar e inovar em novos projetos. O Passat, apesar dos eventuais contratempos, é sua maior fonte de alegria. Recentemente, ele teve um pequeno incidente com o para-choque, que trincou durante uma manobra. “Mas isso não atrapalhou o passeio. Continuamos mesmo assim, e daqui a pouco eu conserto”, diz ele, mostrando a leveza com que encara a vida e suas aventuras com o Passat.

Conclusão

A história de Zé do Passat não é apenas sobre carros e customizações; é um relato sobre superação, criatividade e amor ao automobilismo. Sua jornada mostra como a paixão pode transformar um carro em uma obra de arte, e como essa arte pode inspirar todos ao seu redor. Portanto, se você cruzar com o Passat asa de gaivota de Zé nas ruas de São Paulo, não perca a chance de conhecê-lo. Além de uma conversa divertida, você terá o privilégio de encontrar uma pessoa que representa o verdadeiro espírito do “faça você mesmo” e do entusiasmo automotivo no Brasil.

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