Corcel Bino: Um Ford com Motor Renault

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O Corcel Bino é um dos exemplares mais interessantes da história automobilística brasileira, uma verdadeira fusão entre o design clássico da Ford e a tecnologia da Renault, oferecendo uma experiência de condução única e desempenho excepcional para sua época. Para entender como esse modelo se destacou, é preciso voltar um pouco no tempo, à década de 1960, quando o cenário automotivo brasileiro vivia uma revolução.

O Contexto Histórico

Créditos: Reprodução

O ano de 1967 foi marcante para a indústria automobilística nacional, não apenas por causa do Corcel, mas também pelos avanços tecnológicos e pela competitividade crescente no mercado. Christian Heins, mais conhecido como Bino, foi um dos nomes que ficaram gravados na história do automobilismo brasileiro. Nascido em São Paulo em 1935, Bino era um piloto que, mesmo com pouca idade, conquistou uma enorme admiração no mundo das corridas, especialmente por sua coragem e habilidades ao volante.

Bino teve a chance de correr com diversos carros, incluindo o famoso Dauphine Gordini 1093 e o Interlagos, ambos com forte ligação com a marca francesa Renault. Mas seu maior legado foi mesmo nas competições de longa duração, como as 24 Horas de Le Mans, onde, infelizmente, perdeu a vida em um trágico acidente em 1963. No entanto, seu nome continuou a reverberar no Brasil, especialmente com a criação do Bino Mark I, um protótipo desenvolvido pela equipe Willys.

O Desenvolvimento do Corcel Bino

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Após os sucessos nos protótipos de corrida, a equipe Willys decidiu desenvolver um modelo de produção inspirado no Corcel, já que o carro estava ganhando popularidade nas ruas e precisava de uma versão mais esportiva. O Ford Corcel tinha sido lançado em 1968 como um sedã compacto, mas seu desempenho não estava à altura de modelos esportivos da época, como o Porsche 911 ou o Alfa Romeo GTA. E foi aí que entra a brilhante ideia do Corcel Bino.

A Bino-Samdaco, empresa responsável pela preparação de carros, percebeu que o motor Renault poderia ser a chave para elevar o desempenho do Corcel. O motor Sierra, também conhecido como Cléon-Fonte, foi uma adaptação do motor do Renault 12, o que fez com que o Corcel Bino se tornasse uma espécie de híbrido entre as duas marcas. O motor 1.300 cm³ do Corcel foi trocado por um modelo de 1.440 cm³, o que resultou em uma potência de cerca de 125 cavalos – mais do que o suficiente para colocar o Corcel Bino em uma nova liga de esportividade.

Modificações e Desempenho

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Visualmente, o Corcel Bino era inconfundível. A principal característica era a tomada de ar falsa sobre o capô, pintada de preto fosco, um detalhe que chamava atenção à primeira vista. As rodas de magnésio eram larguíssimas, com três diferentes padrões de desenho, e os pneus Pirelli Cinturato ou Maggion davam uma sensação de estabilidade e aderência superior. Os faróis auxiliares e as lanternas de design exclusivo completavam o visual arrojado.

Mas o que realmente se destacava era o motor. Além da cilindrada maior, o Corcel Bino recebia novos pistões e um coletor de admissão adaptado para dois carburadores Solex 32, componentes que o tornavam muito mais eficiente e rápido. A tampa de válvulas e o cárter feitos de magnésio não só melhoravam o desempenho, mas também davam ao carro uma estética esportiva e moderna para a época.

Com essas modificações, o Corcel Bino podia acelerar de 0 a 100 km/h em 15,5 segundos e atingia uma velocidade máxima de cerca de 146 km/h. Esses números, para um carro brasileiro de 1970, eram impressionantes, especialmente se compararmos com modelos como o Chevrolet Opala ou o VW Fusca, que eram mais comuns nas ruas da época.

O Interior e a Condução

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Dentro do Corcel Bino, o interior também não deixava a desejar. O painel de instrumentos foi totalmente modificado para oferecer um visual mais esportivo e completo. O velocímetro chegava até 200 km/h, enquanto o conta-giros tinha uma marcação até 8.000 rpm, proporcionando ao motorista as informações necessárias para extrair o máximo de desempenho do carro. Outros detalhes, como o termômetro de água e óleo, o manômetro de pressão e o marcador de combustível, indicavam que o Corcel Bino foi projetado para pilotos e entusiastas.

O volante esportivo, que também era uma característica comum em carros de alta performance da época, estava posicionado para garantir a melhor experiência de direção, permitindo ao motorista ter total controle sobre o carro, especialmente nas curvas fechadas e em retas que exigiam aceleração máxima.

A Preparação em Kit

Até 1972, a Bino-Samdaco continuou a oferecer diversas modificações e peças especiais para o Corcel, como comandos de válvulas, cabeçotes preparados, carburadores Weber duplos, virabrequins de maior curso e até sistemas de lubrificação com radiador e bomba de maior vazão. Com essas alterações, o Corcel Bino chegava a 120 cavalos de potência e atingia 185 km/h – uma marca impressionante para um carro nacional.

Além da versão sedã, o Corcel Bino também foi oferecido na versão cupê, que era ainda mais esportiva e visualmente marcante. A preparação em kit era oferecida para outros modelos da linha Corcel, permitindo que proprietários de diferentes versões personalizassem seus veículos com os componentes da Bino-Samdaco. O comando de válvulas Iskenderian (de origem americana), o coletor de admissão modificado e a taxa de compressão maior eram apenas algumas das melhorias disponíveis para quem queria transformar o Corcel em uma máquina ainda mais potente.

O Legado do Corcel Bino

Créditos: Reprodução

O Corcel Bino não apenas se destacou pela sua performance, mas também pela sua exclusividade e pelo impacto que teve na indústria automobilística nacional. Foi um dos primeiros modelos esportivos fabricados no Brasil que realmente ofereceu uma experiência de condução diferenciada. Muitos dos carros da época, com motores menores e menos potentes, não conseguiam nem sequer se aproximar do desempenho do Corcel Bino.

Embora o Corcel Bino tenha sido produzido em números limitados, sua história não ficou esquecida. Modelos restaurados e preservados até hoje são verdadeiros tesouros do automobilismo brasileiro, sendo valorizados em eventos e exposições de carros antigos. E, para quem gosta de história, o Corcel Bino é um símbolo do Brasil nos anos 60 e 70, uma época de grandes transformações no mercado automotivo.

Conclusão

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O Corcel Bino é um exemplo de como a indústria automobilística brasileira soube combinar tecnologia internacional com talento local para criar algo único. Ao integrar um motor Renault ao design da Ford, o Corcel Bino não só se tornou mais rápido e potente, mas também fez história no Brasil. Mesmo com o tempo, ele continua a ser lembrado como um dos maiores marcos da nossa indústria automotiva.

Se você é um entusiasta de carros antigos, certamente se encantará com o Corcel Bino. Com características únicas e um desempenho que foi pioneiro para a época, esse modelo continua a ser uma referência de estilo e inovação para os apaixonados por automóveis.

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