Se você é apaixonado por carros clássicos e pela história do automobilismo brasileiro, certamente vai se encantar com o Fusca Avallone Cabriolet. Este é um exemplo raro de criatividade e inovação na indústria automobilística nacional. Criado pelo piloto e construtor Antonio Carlos de Bugelli Avallone (1933-2002), o conversível brasileiro foi uma tentativa ousada de preencher a lacuna deixada pelo clássico Volkswagen Fusca Cabriolet alemão, que parou de ser produzido em 1980.
A Inspiração Vinda da Alemanha
O primeiro Fusca Cabriolet foi produzido na Alemanha em 1938, fruto do trabalho de Ferdinand Porsche e Wilhelm Karmann. Apesar da iminência da Segunda Guerra Mundial, as primeiras unidades do modelo deixaram a linha de montagem da Karmann, em Osnabrück, apenas em setembro de 1949. Foram mais de 330.000 unidades produzidas até janeiro de 1980, consolidando o modelo como um ícone.
Quando o Fusca Cabriolet alemão deixou de ser produzido, o mercado brasileiro, então fechado a importações, viu surgir uma oportunidade. Foi neste contexto que a Aciei (Avallone Comercial, Industrial, Exportadora e Importadora) lançou o Avallone Cabriolet, buscando suprir a demanda por conversíveis.
O Projeto Brasileiro
A Aciei, com sede nas proximidades do autódromo de Interlagos, já era reconhecida pela alta qualidade de seus projetos, como o Avallone TF, uma réplica do inglês MG TF, premiada no Salão de Genebra de 1978. Assim, o Avallone Cabriolet foi concebido com o mesmo esmero e atenção aos detalhes.
A transformação do Fusca em conversível envolvia modificar a carroceria para incluir elementos em plástico reforçado com fibra de vidro, como a parte central e as portas. Já os capôs dianteiro e traseiro, para-lamas e painel eram mantidos em aço estampado, aproveitando a estrutura original do Fusca.
Para compensar a perda de rigidez estrutural causada pela retirada do teto, foram utilizados reforços similares aos do projeto alemão original. Esses reforços incluíam quatro colunas de aço fixadas a uma plataforma metálica de chapas dobradas, garantindo maior segurança e estabilidade ao carro.
Detalhes que Fazem a Diferença
Um dos destaques do Avallone Cabriolet era o cuidado com os acabamentos. Os vidros, por exemplo, eram personalizados com a gravação do nome do fabricante e molduras que permitiam o acionamento mais rápido. Em apenas duas voltas na manivela, você poderia abrir ou fechar completamente os vidros.
A capota de curvim, com isolamento acústico perfeito, trazia conforto e praticidade, sendo fixada por apenas duas travas no quadro do para-brisa. Contudo, quando baixada, ocupava muito espaço atrás do banco traseiro, prejudicando a visibilidade traseira.
O peso extra dos reforços estruturais acabava por melhorar a dinâmica do carro, resultando em um centro de gravidade mais baixo. Isso tornava o Avallone Cabriolet mais estável em curvas, embora comprometesse ligeiramente a agilidade nas acelerações.
Personalização e Exclusividade
Cada Avallone Cabriolet era único, podendo ser personalizado com uma vasta gama de equipamentos fornecidos pela Dacon S/A, a concessionária paulista onde o carro era vendido. Entre os itens disponíveis, você encontrava:
- Faróis auxiliares;
- Rodas de liga leve;
- Pneus radiais;
- Pintura metálica;
- Bancos de couro;
- Sistemas de som e ar-condicionado;
- Motores maiores e mais potentes.
Com todos esses opcionais, o preço do Avallone Cabriolet chegava a custar 60% a mais que o Fusca convencional. Convertendo para valores atuais, um carro que custava R$ 30.000 poderia atingir R$ 48.000, ajustado para a inflação e considerando o status de colecionável.
O Declínio e a Raridade
Infelizmente, o Avallone Cabriolet não alcançou o sucesso esperado. A previsão de produzir 50 unidades mensais jamais se concretizou devido à baixa demanda e aos altos custos de produção. A falta de apoio da Volkswagen também foi um fator determinante para que Antonio Carlos Avallone decidisse migrar para outros mercados, como o de limusines.
A crise econômica da década de 1980 também não perdoou pequenos fabricantes nacionais. Sem capital de giro, a Aciei encerrou suas atividades em 1988. Hoje, as poucas unidades remanescentes do Avallone Cabriolet são altamente valorizadas por colecionadores, chegando a atingir valores acima de R$ 300.000 em leilões e vendas particulares.
Um Legado Que Vive
O Fusca Avallone Cabriolet é mais do que um carro: é um pedacinho da história do Brasil. Ele reflete o espírito empreendedor de um homem visionário e a paixão dos brasileiros pelos automóveis. Hoje, se você tiver a sorte de encontrar uma dessas raridades, saiba que estará adquirindo uma verdadeira obra de arte sobre rodas.