A Brasília Teimosa: Sempre Voltava ao Dono

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Se você acha que já ouviu histórias inacreditáveis sobre carros roubados, prepare-se. Essa é a saga da Brasília Teimosa, um carro que simplesmente se recusava a mudar de dono, por mais que os ladrões tentassem. O caso aconteceu em São Paulo, no distante ano de 1982, e se tornou uma lenda entre os apaixonados por automóveis. Mas antes de chegarmos ao fim inglório dessa valente máquina, vamos entender como tudo começou.

A Brasilia que ganhou um visual esportivo

Foto: VW/divulgação

Nos anos 1980, a Volkswagen Brasília era um dos carros mais populares do Brasil. Foi nessa época que Jorge Alano Silveira Garagorry, um jovem cheio de energia e bom gosto para carros, adquiriu sua Brasília Marrom 1974. Apesar dos oito anos de uso, o carro já apresentava sinais de cansaço. Mas Jorge, decidido a deixar seu possante com um visual mais jovem e esportivo, investiu pesado.

Ele instalou rodas de titânio, um volante esportivo, um toca-fitas auto-reverse com amplificador Tojo, bancos esportivos e outros detalhes que transformaram sua Brasília em um carro diferenciado. O resultado? Um carro estiloso e muito cobiçado.

O primeiro roubo e a surpreendente volta para casa

Foto: VW/divulgação

Em uma sexta-feira qualquer, Jorge saiu para curtir a noite paulistana com sua Brasília estilizada. Depois de se divertir, voltou de madrugada e estacionou o carro em frente ao seu prédio, no bairro de Pinheiros. Como o edifício não tinha garagem, essa era a rotina normal.

Porém, na manhã seguinte, ao olhar pela janela, veio o choque: o carro tinha sumido! Ladrões haviam levado sua querida Brasília. Jorge correu para a delegacia e registrou o boletim de ocorrência. Mas, para sua surpresa, ainda no mesmo sábado, recebeu um telefonema da polícia informando que o carro tinha sido encontrado. E o mais incrível? Ele estava praticamente intacto!

Os ladrões haviam levado apenas o toca-fitas e o amplificador, deixando todo o resto no lugar. Aliviado, Jorge recuperou seu carro e achou que tudo não passava de um incidente isolado. Mal sabia ele que o pior ainda estava por vir.

O segundo roubo: inacreditável coincidência

Foto: VW/divulgação

Apenas um mês depois, a história se repetiu. Jorge voltou de uma noite de diversão na sexta-feira e chegou em casa por volta das 7 horas da manhã. Cansado, dormiu profundamente. Mas, apenas uma hora depois, o telefone tocou. Era da delegacia de Pinheiros, informando que sua Brasília tinha sido encontrada novamente.

“Não pode ser!”, pensou Jorge. O carro estava na rua fazia apenas uma hora! Mas, ao olhar pela janela, o choque: sua Brasília havia sido roubada novamente! Os policiais informaram que o carro estava abandonado próximo à favela do Rio Pequeno, depenado. Dessa vez, os criminosos levaram tudo: rodas, bancos esportivos, volante, toca-fitas reposto e até pequenos detalhes internos.

Cansado da situação, Jorge avisou os policiais que só buscaria o carro mais tarde. Mas o problema ficou ainda maior quando alguém na favela encontrou um cartão de estacionamento da empresa onde Jorge trabalhava dentro do carro e entrou em contato com a segurança do local. A empresa, preocupada, pensou que Jorge estivesse em apuros e mobilizou uma equipe para procurá-lo, gerando um verdadeiro furdúncio.

Um novo dono e a decadência da Brasília

Depois de recuperar sua Brasília completamente descaracterizada, Jorge desistiu de deixá-la esportiva. Com medo de novos roubos, ele decidiu vender o carro para um cunhado descuidado, que não tinha hábito de fazer manutenção e ignorava documentação e multas.

O carro foi definhando, e sua degradação atingiu um ponto inacreditável quando, em uma viagem para Jundiaí, o assoalho enferrujado cedeu no meio da estrada. O resultado? Faíscas por toda a rodovia! A solução improvisada foi colocar uma tábua de madeira para segurar o banco, evitando que ele afundasse direto no chão.

O fim inglório da Brasília Teimosa: apreensão e esquecimento

Foto: reprodução/euamoleilao.com.br

O destino final da Brasília Teimosa foi, no mínimo, curioso. Durante as eleições para prefeito de São Paulo, o carro foi usado como veículo de campanha para Fernando Henrique Cardoso, que concorria contra Jânio Quadros. Cheia de cartazes eleitorais, a Brasília já não era nem sombra do que já fora.

Mas a decadência chegou ao fim de vez quando o carro foi parado em uma blitz. Sem documentação regularizada, foi apreendido e levado ao pátio do Detran, onde ficou esquecida até apodrecer. Nem o candidato venceu a eleição, nem a Brasília sobreviveu!

O destino de Jorge e uma lição aprendida

Se a Brasília teve um fim inglório, Jorge Alano teve um destino muito diferente. Anos depois, tornou-se professor doutor em economia na PUC, foi superintendente de relações com investidores da Sabesp, diretor de planejamento financeiro da prefeitura de Santo André, secretário da fazenda em diversas prefeituras e consultor financeiro para diversas cidades do Brasil.

E a lição que fica? Talvez seja melhor deixar seu carro mais discreto e, se possível, com um bom alarme. Porque nem todo carro roubado tem a sorte de voltar ao dono – muito menos duas vezes!


E você, já teve um carro roubado que voltou? Ou conhece alguém com uma história parecida? Conte nos comentários!

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